Embora muitos dos trabalhadores de sites especializados sejam jovens e estejam fugindo da chatice de um emprego fixo, ou simplesmente complementando suas rendas, outros buscam aproveitar toda uma vida de experiência.
A Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos certa vez postou um desafio em busca de um algoritmo capaz de prever erupções solares; o vencedor (que recebeu um prêmio de US$ 20 mil da Nasa) foi um engenheiro de rádio aposentado.
Daniel Callaghan, presidente-executivo da MBA & Company, uma plataforma do Reino Unido que intermedeia tarefas on-line, diz que a nuvem humana —sistema em que empresas recrutam pessoas em qualquer lugar do mundo e pagam por tarefa realizada— fará com que esses problemas desapareçam. “Agora você pode conseguir quem quer que deseje, e da forma que preferir”, ele diz.
“E porque essas pessoas não são empregados, não é preciso lidar com a regulamentação e as formalidades do emprego”.
Isso é especialmente útil para empresas iniciantes e de rápido crescimento.
Dom Bracher, 22, fundador da Tapdaq, uma companhia de marketing para aparelhos móveis sediada no Reino Unido, contrata desenvolvedores e designers na Escandinávia e Europa. “Não há necessidade de que a pessoa esteja na mesma cidade que você”, ele diz.
Susan Lund, sócia do McKinsey Global Institute, diz que a nuvem humana pode melhorar a mobilidade social, igualmente, porque permite que pessoas obtenham provas concretas de sua capacitação mesmo que seus currículos não contenham qualificações formais.
“Para alguém que não tenha diploma de uma das grandes universidades, ou mesmo que não tenha diploma de todo, acumular essas avaliações é muito importante – poder afirmar que a pessoa trabalhou X horas com códigos e recebeu avaliação média Y tem muito valor”, ela diz.
A outra consequência dessa transferência do trabalho para a Internet é que mais pessoas poderão fazê-lo – pessoas que não podem sair de casa, ou que vivam em locais onde não há muita oportunidade de emprego.
O lado negativo é que os trabalhadores que vivam em locais com custo de vida mais baixo poderão oferecer preços melhores que os de seus colegas em países mais caros. “Poderemos ter alguém que vive em Gotemburgo concorrendo com alguém que vive em Dacar”, diz o professor Standing.
Muitas funções de informática e centrais telefônicas foram terceirizadas para países como a Índia, mas o professor Standing acredita que a próxima onda de “terceirização internacional silenciosa” será mais devastadora para os salários e condições de trabalho nos países desenvolvidos.
É difícil testar sua hipótese, já que a maioria das plataformas de nuvem humana não são cotadas em bolsa e divulgam dados de modo seletivo. Ainda assim, muitos trabalhos parecem gravitar para países de baixo custo e dotados de mão de obra qualificadas. Os maiores mercados da Upwork, em termos de faturamento dos trabalhadores, depois dos Estados Unidos, são Índia, Filipinas, Ucrânia e Paquistão.
REPUTAÇÃO
Na maioria dos casos, os empregadores e os trabalhadores se avaliam mutuamente quando uma tarefa é concluída, como acontece no eBay ou Airbnb, o que permite que os dois lados construam uma reputação.
As plataformas de nuvem humana sabem que precisam conectar os empregadores a bons profissionais, a fim de encorajar novas visitas, e por isso muitas delas estão começando a usar algoritmos de “big data” para recomendar certos trabalhadores para certas tarefas.
A People per Hour criou um segundo site, o SuperTasker, que emprega um grupo menor de trabalhadores pré-selecionados a fim de realizar tarefas fixas em prazo fixo e por preço fixo: um post de blog de 400 palavras para entrega em três horas custa US$ 45, por
exemplo. Xenios Thrasyvoulou, o fundador da empresa, define o sistema como “SKUs de trabalho”.
SKU é uma sigla usada para “unidades de estoque” – um jargão do varejo para designar produtos a fim de facilitar a reposição de estoques.
No entanto, no alto da hierarquia da nuvem humana, “padronização” é um termo chulo. “Não se trata de uma commodity – os clientes não selecionam por preço”, diz Daniel Callaghan, presidente-executivo da MBA & Company, do Reino Unido. Sua plataforma, como a rival norte-americana HourlyNerd, liga empresas a “consultores instantâneos”. Outros sites especializados incluem o Topcoder, para programadores de computador, e o Upcounsel, para advogados.
Os consultores da MBA & Company cobram entre 250 e 4,8 mil libras ao dia (e o site acrescenta a isso sua comissão de 20%).
Nagara, 30, é um dos consultores da plataforma; trabalhava para o Macquarie, um banco de investimento australiano, mas retornou à Indonésia por razões de família. Ele calcula que ganha mais com seus honorários diários do que ganharia como empregado – ainda que tenha de sacrificar a segurança e os benefícios de um emprego fixo, algo que seus pais não compreendem. “Eles trabalharam para a mesma empresa por décadas, e por isso quando me veem dois meses sem trabalho, se assustam. Devem achar que sou um desastre”.
Menos regulado, trabalho ‘por tarefa’ atrai jovem à procura de flexibilidade
Fonte: Financial Times